Em De Clóvis para Amélia, o escritor José Luís Lira publica cartas inéditas de Clóvis Bevilaqua para sua esposa. O livro é lançado hoje, 9, na Academia Cearense de Letras
(Reprodução)
Reunidas em De Clóvis para Amélia, com lançamento hoje, 9, na Academia Cearense de Letras, a partir das 18h30min, as cartas foram organizadas pelo escritor e advogado José Luís Lira.
Os noivos se conheceram nas praias do Recife de forma inusitada: Clóvis salvou Amélia de um afogamento. Se foi paixão a primeira vista, não se sabe, mas o amor, que teve seus pormenores eternizados nas correspondências, durou para sempre. As cartas foram escritas entre maio de 1882 e agosto de 1891, mas em sua maioria, os escritos são de um período que compreende poucos meses antes de o casal unir-se em matrimônio, em 5 de maio de 1883.
As cartas estavam aos cuidados de Cecília Bevilaqua, neta do casal, e foi José Luís Lira saber de sua existência para já imaginá-las em livro. “Quando encontrei as cartas, me surpreendi pela beleza e pelo conteúdo. Deparei-me com um exímio desenhista, com poesias em forma de cartas”, relembra e continua, explicando como convenceu as herdeiras a publicar as cartas: “O conhecimento do público deste material ajudaria mais ainda a manter viva a memória de Clóvis e retratar seu amor por Amélia, conhecido por poucos”.
Um problema que o escritor encontrou foi o fato de só haver cartas escritas por Clóvis, e as de Amélia, que também era escritora e postulou sem êxito uma vaga na Academia Brasileira de Letras, terem se perdido. “Penso que ela eliminou as suas próprias cartas, recomendação que ele fez a ela também e, para sorte nossa, ela não atendeu”, acredita José Lira. Em certos trechos, Clóvis faz claras menções e até repete partes das cartas de Amélia. Ao contrário do que se podia pensar, a falta das cartas de Amélia, longe de ser um demérito a obra, faz com que o leitor tenha sua imaginação aguçada.
Além das cartas, o livro traz ainda breves biografias dos dois, matérias de jornais quando da morte de Clóvis em 1944, uma carta de filha Vellêda de Freitas Bevilaqua dias após o falecimento do pai, fotografias da família e desenhos feitos por Clóvis.
Em fac-símiles, as cartas são impressas ao lado de suas transcrições, cujo português foi atualizado e trechos em francês, inglês e latim traduzidos em notas de rodapé. Por vezes, Clóvis declara serem as cartas sua única alegria. “Eu não tenho outro prazer senão escrever-lhe e ler cartas suas”, diz. Em outro, declara seu amor: “E eu amo esse estado de meu espírito me faz restringir meu mundo quase exclusivamente a você”.
Clóvis fala da vida em Recife, da casa bagunçada que dividia com o amigo, e, surpreendentemente, do desgosto com o curso na faculdade que estava prestes terminar. “Embora o meu pouco apego aos livros de direito, digo mal, embora o meu nenhum gosto e a minha absoluta inaplicação em relação ao estudo das matérias em que, em poucos dias a Faculdade me conferirá um diploma de habilitação, embora isso, digo, estimei consideravelmente a reabertura das aulas”, escreve após uma greve.
A última carta (sem data, mas que José Lira, analisando a letra mais arredondada de Clóvis, acredita que seja após o casamento) fala de um amor eterno. Dirigida a “doce Amélia”, que morreu dois anos após sua morte, Clóvis escreve: “Feliz serei se acreditares na verdade do que deixo escrito e que sempre, viva ou morta, me possuirás a alma de tal forma que eu jamais saberei se no mundo há mulher”.
Domitila Andrade
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