terça-feira, 25 de outubro de 2011

Lustosa e seu novo livro

Bagagem literária sobralense

 



Diz-se na terra de Camões e Pessoa, que quem pousa num novo quinhão sem sua bagagem, chega “sem peúgas nem borzeguins”. O jornalista e escritor Lustosa da Costa, em sua nova incursão literária, garante já no título estar “sem peúgas nem borzeguins”, mas nas páginas que seguem à manchete, o sobralense nascido na Paraíba prova que tem bagagem de vida de sobra, mesmo que lhe faltassem meias e botinas quando pousou em Portugal. Sem peúgas nem borzeguins – crônicas para o entardecer é o 28º livro da carreira de Lustosa da Costa (...).

No limite entre a ficção e o ofício reporteiro ao qual já remontava à política sobralense em seu pequeno diário aos nove, Lustosa continua dividido entre os dois não só na escrito, como até na fala. Tantos anos entre letras, sem perder o fôlego na escrita, mesmo que o peso da idade já incomode. “Tem amigo meu com a mesma idade que diz se sentir com 20 anos – eu digo para ele para ir ao psiquiatra ou para o (programa) Fantástico, porque ou ele é um fenômeno ou um louco”, diz, quase em rima, avisando que a melhor idade que se pode ter é até os 25 anos. Apesar de tudo, não se queixa. “É melhor ser velho do que defunto”, versa.

Originalmente o título seria apenas Crônicas para o entardecer, na vontade de não esconder que Lustosa já deixou o ápice – o meio-dia da jornada terrestre –, rumo ao entardecer até o fim da vida. Mas é logo na primeira crônica, nomeada Sem peúgas nem borzeguins, que Lustosa faz sua referência ao ditado lusitano referente à chegada do filósofo Bias de Priene à Grécia e a ideia de sobrepor a crônica sui generis à título do livro se provou irresistível.

Paraibano (“por acaso”) de berço, foi dos quatro aos 17 anos que Lustosa abraçou sua terra. A princesa do norte Sobral foi onde Lustosa começou – como brincadeira – seu ofício de jornalista e onde mais desenvolveu suas pesquisas histórico-jornalístico-apaixonadas. Depois dos 17, Fortaleza foi sua casa e há décadas tem Brasília como morada. “Posso lhe dizer que sou um cidadão do mundo. É como dizem; ‘Sobral meu tempo, Fortaleza meu amor’. Meu filho tinha dito que Brasília, então, é minha amante”, conta, apontando que tanto seu blog quanto seu e-mail ele segue a alcunha “sobralense”.

As peregrinações e causos também o levaram para Cabo Verde, Portugal e diversas outras terras ávidas por histórias, de onde trouxe amizade com o português José Saramago e crítica de livro do moçambicano Mia Couto.

As amizades também se imbricaram na confecção do livro. O prefácio é de Raymundo Netto, que também trabalhou na capa, revisão e projeto gráfico. Já a ilustração na capa vem de família, com a pintura tendo sido feita pela irmã Isabel Lustosa, baseada num retrato do autor com outra irmã, Lúcia. Após as crônicas, a iconografia vem com imagens de colegas como Afonso Arinos, Jorge Amado e António de Almeida Santos - escritor e ex-ministro da Justiça português, responsável pelo texto da contracapa da obra.

O Povo, 21.10.2011

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